Da primeira engenheira formada no Brasil até os dias de hoje, elas têm provado a sua capacidade e profissionalismo

No Brasil, a data formal de início dos cursos de Engenharia é 17 de dezembro de 1792, quando foi criada a Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho, no Rio de Janeiro. Foi a primeira das Américas e seguia o modelo da academia homônima, em Portugal. Mas o que alavancou o ensino superior da Engenharia no país foi a vinda da família real portuguesa, que em 4 de dezembro de 1810 criou a Academia Real Militar, com base na academia de 1792, com um curso de Engenharia de duração de sete anos.

No entanto, a primeira mulher a se formar engenheira no Brasil só aconteceu em 1917, também no Rio de Janeiro: Edwiges Maria Becker Hom’meil. Ou seja, 179 anos depois da data de início dos cursos de Engenharia no país. Com a pioneira, outras seguiram-se. Como a primeira engenheira do Espírito Santo, que se graduou em Engenharia Civil pela antiga Escola Politécnica da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Emilia Frasson Manhães, em 1960. Ela ingressou em 1956, na quinta turma e foi a primeira mulher a cadastrar-se no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES), a 16ª engenheira registrada, além de ser docente da disciplina de Desenho da Escola Politécnica da Ufes.

Já a primeira engenheira mecânica no Estado foi Tânia Versieux Romano, graduada em 1972, e a segunda foi Maria Ângela Loyola de Oliveira, em 1975, que foi professora da Ufes e proprietária da Faculdade UCL. Maria Angela ingressou em 1971, em uma turma de 130 estudantes, com apenas 11 mulheres e foi a primeira docente mulher do curso de Engenharia Mecânica da Ufes, como professora colaboradora em 1977. Ela também foi a primeira mulher a obter o título de doutora no Departamento de Engenharia Mecânica, em 1994.

E no Departamento de Engenharia Elétrica, as primeiras docentes foram as professoras Jussara Farias Fardin, que ainda encontra-se na ativa, e Maria Karla Vervloet, aposentada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ambas entraram no ano de 1979. Todas elas mostraram que Engenharia não é apenas “coisa de homem” e que sim, se destacam e abraçam essa área cada vez mais.

Prova disso é a curiosidade da engenheira mecânica Joelma Mian Rabello, que desde criança sempre quis saber como as coisas funcionavam. Ela já desmontou telefone, ferro elétrico e até uma batedeira para descobrir o funcionamento ou até mesmo para consertar esses objetos. Nem todos os consertos foram bem-sucedidos, como o caso do ferro elétrico, mas esse detalhe não a desanimou.

“Comecei bem pequenininha, com o telefone fixo. Ele começava a chiar no meio de uma ligação e eu ficava com aquilo na cabeça: preciso descobrir o que está acontecendo com esse telefone. E nisso eu agradeço muito aos meus pais que me deixaram descobrir, desmontar e montar de novo até resolver o chiado. Essa curiosidade veio desde pequena e juntou o gosto pela matemática também, já que as pessoas falavam que quem gosta de Matemática pode fazer Engenharia”, lembra.

Joelma trabalha na ArcelorMittal Tubarão há 24 anos. Ela entrou logo após terminar o curso superior e, desde a dinâmica de grupo, uma das coisas que mais lhe chamou a atenção foi o fato dela ser vista como uma profissional, independente do seu gênero. “Durante as dinâmicas, em momento algum eu notei diferença por ser mulher. Era 1997, e desde aquela época eles estavam muito abertos a reconhecer a competência e a criatividade, independente de ser mulher ou homem. Então, agradeço muito a oportunidade que eu tive”, observa.

Quando entrou na ArcelorMittal, Joelma conta que havia poucas mulheres, mas atualmente, a presença delas é bem maior na empresa. Como profissional, atuou em várias áreas, como a coqueria, onde ficou como engenheira de manutenção por seis anos e depois, convidada para atuar na operação das baterias de coque, onde permaneceu por cinco anos. Atualmente, Joelma está à frente da coordenação de projetos mecânicos das obras da Bateria 4 da Coqueria da ArcelorMittal Tubarão.

“Foram 11 anos de uma experiência muito linda na minha vida, na coqueria. Cheguei a ser uma referência em coqueria, justamente por todo esse tempo e a troca de experiência com outros profissionais do grupo, no exterior. Depois eu voltei para engenharia e fiz um trabalho maravilhoso também no Laminador de Tiras a Quente (LTQ). Tive desafios em todas as áreas onde atuei na empresa. Esses desafios são metas novas, que me deixam muito motivada. Agradeço a empresa por confiar em mim quando me colocou nesses projetos”, destaca.

CAPACIDADE TÉCNICA

Engenharia é pensar, projetar, executar e criar soluções para um problema. Não importa em que área seja. Portanto, é resolver problemas, ter capacidade técnica e ser bem-sucedida em uma área independente do gênero dessa pessoa. E por isso que cada vez mais as mulheres têm encontrado na Engenharia uma forma de expressar aquilo o que são e o que desejam para o mundo.

Dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) mostram que quase 19% dos profissionais ativos no sistema são mulheres, em um universo de 982.158 inscritos, ou seja, 184.881 são do sexo feminino. No Espírito Santo, essa é também uma realidade. Segundo o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES), 17.976 engenheiros homens têm o registro ativo, enquanto as mulheres somam 4.349 engenheiras com registro ativo.

Ainda falta um longo caminho para que esses números estejam igualados, mas as engenheiras que se formaram mostram a importância de inspirar outras mulheres a seguirem por esse caminho, como é o exemplo da professora do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Karla Maria Wingler Rebelo, engenheira civil e mestre e doutora em Geotecnica. Ela conta que não precisou de incentivo na família, porque sempre gostou da área de exatas. Mas sabe que há diferenças de tratamento de uma mulher e um homem ao ocupar a função de engenheiro.

“Hoje, eu vejo que não é igual o tratamento de uma mulher e um homem nessa área. A visão é totalmente diferente e, por isso, muitas mulheres sentem medo de não dar conta do recado, que eu costumo falar que é a síndrome da impostora. E tem o outro lado, que não vê a capacidade das mulheres, que em algum momento vão ter sempre a sua capacidade subjugada. Como uma vez em que acharam que eu fosse uma secretária que ajudava meu chefe na obra e não o contrário. Já em outra situação, tive que me colocar de uma forma diferente para poder ser respeitada. A gente tem que se impor o tempo todo”, avalia.

Em contrapartida, Karla vê com otimismo o aumento de mulheres nos cursos de Engenharia e como professora, seu desejo é inspirar que cada vez mais mulheres ocupem esse lugar. “Elas podem ser engenheiras sim, e necessariamente não precisam ficar apenas no escritório, elas podem ir para a obra se quiserem. O meu foco é ajudar meus alunos e alunas, sempre dando uma forcinha para as mulheres, porque eu sei que elas precisam dessa energia a mais para se sentirem capazes”, ressalta.

Ser uma inspiração para suas alunas e alunos é uma das suas motivações como professora. “O aluno quando se sente motivado, vai longe, voa. Já tive muitas alunas falando para mim que elas ganham mais força quando me ouvem. Eu mesma tenho mulheres que se tornaram referência para mim como professora, tanto pelo fato de serem engenheiras numa área onde, na época, havia ainda poucas mulheres e também por saberem se posicionar, conversando com outros engenheiros de igual para igual”, finaliza Karla.

Fonte: G1 Espírito Santo
https://g1.globo.com/es/espirito-santo/especial-publicitario/arcelormittal/elasnaengenharia/noticia/2021/05/19/mulheres-conquistam-cada-vez-mais-seu-espaco-na-engenharia.ghtml